De fato, reagir é deixar Deus agir.
No ano de 1986, o Governo vietnamita finalmente autorizou Kim a terminar os estudos de Medicina numa comunidade comunista em Cuba. Ela morava no 24º andar de um prédio que não tinha instalação de água e nem elevador, e isso era uma complicação, porque, diariamente, Kim ainda precisava lavar e aplicar medicação em suas queimaduras. Um colega vietnamita chamado Tuan se ofereceu para carregar baldes com água até o apartamento de Kim e ele começou a sentir-se tocado pela amabilidade dela.
Reações…
O rapaz era interessante em todos os aspectos… Fumava, bebia excessivamente e, ainda por cima, era um idealista comunista, ou seja, Kim era educada com ele, mas, ao mesmo tempo, era evasiva diante dos elogios.
Reações…
Kim testemunhava sobre Jesus para Tuan, mas suas barreiras idealistas e intelectuais para a fé pareciam intransponíveis, como a defesa do time cubano de vôlei. Entretanto, precisamos considerar o amor como um elemento que também provoca reações. Por causa disso, Tuan parou de beber e fumar e pediu a “
Alegria Dourada” em casamento, mas, inicialmente e por várias vezes, ela reagiu fazendo afirmações em torno de suas queimaduras e dos efeitos em seus órgãos e que, provavelmente, não poderia ter filhos em função disso. Mas, Tuan foi insistente e continuou reagindo às escusas de Kim. A jovem que quando adolescente aprendera a acreditar que nenhum homem a amaria e desejaria se casar com ela, agora vivia um impasse. Kim passou a vida inteira reagindo, mas, agora, precisava aprender, de uma vez por todas, que as pessoas também reagem a nós e nem sempre de maneira negativa. Ela havia se preparado para que os homens lhe tratassem com repulsa, mas agora, o que fazer diante de um rapaz legitimamente interessado por ela?
Reações…
Tuan esperou o tempo necessário para Kim acreditar em seu amor e reais intenções de formar uma família com ela. Então, após 06 anos de namoro, o ano de 1992 se tornou um marco para esses sobreviventes –
eles se casaram. No retorno da lua-de-mel, o avião parou para abastecer em Newfoundland, uma cidade do Canadá, e enquanto o avião descia, Kim abaixou sua cabeça e fechou os olhos. Ao ver essa atitude, seu jovem esposo lhe perguntou o que estava fazendo, e ela lhe respondeu: “
Nós temos desejado sair de Cuba e deixar de vez qualquer vínculo com o partido comunista, mas temos medo por conta das retaliações que nossas famílias podem sofrer, ou até nós mesmos. Então, eu estou orando e pedindo a Deus que, se Ele abrir o caminho, nós poderemos ficar e viver no Canadá”. O marido ficou muito apreensivo com a oração subversiva da jovem esposa, mas ela estava certa de que Deus havia aberto uma porta para eles ali e disse ao marido: “
Se você me ama, siga-me, porque eu sigo a Deus”. E quando os passageiros entraram no aeroporto para esperar o abastecimento, Kim não tinha idéia de como fugir, ou de alguém a quem pudesse procurar. Várias coisas passaram por sua mente: “
Será que deveria me esconder no banheiro e quando derem por minha falta já seria tarde?” Não, pensou ela. A polícia secreta após a contagem daria falta dela e logo sairiam à sua procura. Então, mais uma vez ela teve a melhor reação, mesmo em meio ao desespero – Kim fechou os olhos e orou: “
Deus como podemos ficar aqui? Não queremos mais voltar para Cuba e nem para o Vietnã.” Quando Kim abriu os olhos, novamente, sua visão foi direcionada para uma pequena sala no corredor onde havia uma porta entreaberta e percebeu um pequeno grupo de pessoas dentro dela, e imediatamente, reconheceu no meio do grupo, algumas pessoas que pertenciam à sua comunidade em Cuba. A “
Alegria Dourada” não resistiu, se aproximou, colocou a cabeça para dentro da sala e perguntou em espanhol para seus conhecidos: “
O que vocês estão fazendo aqui?” E eles imediatamente responderam: “
Nós queremos ficar aqui”. Kim mais que imediatamente devolveu uma nova pergunta: “
Eu e meu esposo também queremos ficar. Como podemos ficar?” E responderam-lhe a coisa mais simples do mundo: “
Você apenas entrega seu passaporte para o oficial postado logo na frente da sala e pronto”. Kim chamou seu esposo, que a aguardava no escritório de imigração, e ambos entregaram seus passaportes ao oficial e disseram: “
Queremos ficar no Canadá”. “
Sim, ok”, foi a resposta que receberam do oficial. Kim ficou perplexa com a facilidade com que tudo sucedeu e não resistiu à expressão: “
Louvado seja Deus!”
Reações…
Enfim, liberdade! O casal se estabeleceu numa comunidade de imigrantes vietnamitas em Toronto. Penso que a história poderia já parar por aqui não é verdade? Kim sobreviveu ao horror da guerra, teve seu corpo e seu coração restaurados, foi escolhida para ser a amada de um homem e agora estavam livres da opressão do sistema comunista.
Mas, espere aí, tem mais, não pára de ler não…
O corpo da Kim reagiu mais uma vez e o milagre da gestação estava acontecendo no corpo de uma mulher que ouviu dos médicos que seria muito improvável ela poder ser mãe, porque as paredes de seu colo uterino haviam cozinhado com a intensidade do calor que ela enfrentou causado pelo fogo da Napalm. Kim e Tuan tiveram um menino lindo chamado Thomas. Corpos conseguem reagir, mesmo quando submetidos às mais terríveis maldades. E essa reação de Kim agora tinha um nome:
Thomas.
Contudo, a reação mais forte que Kim precisava vivenciar depois de todos os anos que se seguiram à Guerra do Vietnã ainda estava por acontecer. No ano de 1996, a nossa “
Alegria Dourada” concordou em falar numa cerimônia do Dia dos Veteranos de Guerra que ocorreu na capital americana – Washington D.C., na alameda onde ficava o monumento aos soldados mortos no Vietnã. Como você reagiria ao ser convidado para falar na casa dos responsáveis pelo seu horror? Diante daqueles milhares de homens uniformizados, quais seriam as lembranças ativadas em sua memória? É bom lembrar que o corpo da Kim foi bastante atingido pela Napalm, mas, a memória, de longo e curto prazo, estava perfeitamente intacta. Ela não tinha esquecido nada daquele dia 08 de Junho de 1972. Mas, como ela iria reagir?
Continue comigo. Mais entendimento sobre reação ainda nos espera.
CONTINUA
Texto e foto extraídos da página:
http://www.jocum.org.br/artigos/reacao
no dia 04 de abril de 2011, às 11:10 horas
Escrito por: Hellen Braga